# Fica no Singelo ## Uma Mutante Circularidade #danca #danca-contemporanea #guidance ![[ficanosingelo.jpg]] Clara Andermatt trabalha o património tradicional português e, com isso, recorre à riqueza do passado transmitida através do folclore e dos bailes populares. Uma vontade que lhe vem de projetos anteriores – como o trabalho com o Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra ou a recolha da cultura cabo-verdiana –, e que encontra em _Fica no Singelo_ mais uma oportunidade para fertilizar os terrenos da pesquisa etnográfica: técnicas, materiais e funções; cultura popular e cultura arte; ritual e convencional; rural e urbano; tradicional e contemporâneo. É nesta miscigenação que se tentam encontrar as origens do que nos faz diferentes, as origens da nossa identidade num mundo cada vez mais homogeneizado por convenções económico-políticas. ¶ As manifestações culturais revelam-nos esta abundância de saberes e, ao mesmo tempo, sublinham as “cadências repetitivas que atenuam o cansaço e estimulam o fôlego”. A repetição, a certeza de que o que fazemos é porque nos é exigido. Não o negamos. Aceitámo-lo. Nesta labuta, é o corpo que está em causa. Na dança, na música, o movimento é questionado. O que está na sua origem? Não é apenas o movimento físico, mas as motivações que estão na base dos processos, dos que aqui interessam. O folclore é o repositório das memórias que viajam na dança do tempo. As danças e os bailes populares, o objeto de estudo. ¶ O que pode de memória ser guardado na efemeridade da dança? A repetição de um gesto, agora (re)interpretado, não deixa de ser suficiente para lembrar que a cultura é uma expressão da construção humana. O que há de mutante nesta circularidade é a abertura ao novo. Dele nasce o diverso. E a memória, assim, se estabelece no corpo. E o corpo constrói, avança, transporta consigo um património comum. É o passado e o que está para vir que _Fica no Singelo_ (a descontextualização como terreno fértil para novas expressões). Na dança como na vida, a alteridade, o antigo, o novo: “somos ape- nas nós e nós com o outro, somos todos porque é preciso, porque se quer” ¶