# Mapa-Corpo ## As Fronteiras do Sentido #danca #danca-contemporanea #guidance ![[mapa-corpo.png]] “Mapacorpo”, de Amélia Bentes, é, segundo a própria, “um lugar secreto, onírico, da nostalgia do particular, do impreciso, indescritível”. A peça, que junta no mesmo espaço cénico a dança, a música e o desenho gráfico (para além do dueto protagonizado por Amélia Bentes e Leonor Keil, atuam, em tempo real, o músico Vítor Rua e o desenhador digital Jorge Gonçalves), pretende mapear um espaço que se alimenta de cumplicidades, mas também da diferença. Um espaço que não recusa as fronteiras determinadas pela tecnologia, ela própria condicionadora do seu uso e, consequentemente, das viagens que nele empreendemos. Mas, nesta viagem, traçam-se percursos de colaboração, sinal da possível e desejada convergência entre os di- versos, alavancadora das dinâmicas interpessoais, e metáfora de um ponto de parti- da, de uma origem, comuns. ¶ No início da performance, corpos confundidos com o solo libertam-se de um tecido que os acolhe. Por momentos, ainda que breves, contemplam a materialidade da sua origem. Como dois seres que habitam o mundo, interrogam a sua própria existência, unindo-se posteriormente na mesma pele, como que procurando a compreensão do que aparece à nossa consciência. De costas voltadas, tocam-se e fundem-se, fazendo parte de um só e mesmo organismo. Abraçam-se, conhecem-se e dão conta da sua imperiosa necessidade de comunicar. Há uma intuição radical e orgânica que torna o mundo expressivo. E dessa expressividade surge o movimento do corpos que se entrelaçam, procurando mitigar os desequilíbrios que encerram sem, contudo, os renegar. E, do círculo luminoso que abraça a terra, se abre um novo mundo de possíveis. ¶ A partir do jogo de cumplicidades que se estabelece, desenham-se traços que, no corpo, evidenciam o tronco comum da nossa materialidade. Uma materialidade transferível, que se desvanece em pontos de luz capazes de provocar, com a sua energia, o espasmo da mudança. Nas linhas de cor desenhadas no solo, articulam-se movimentos como que à procura do seu próprio caminho. No entanto, estes são movimentos determinados pelo espaço e pelo minimalismo do som, pela luz branca que sincroniza. E é no branco que se revelam as fronteiras do sentido. Na elegância do seu traço, mora um espaço que é fiel depositário de “histórias que acumulamos, escolhas que fazemos e que determinam o que somos”. ¶ “Mapacorpo” é o resultado de uma equilibrada colaboração que emerge da conjunção de personalidades e discursos diferentes, que se cruzam na contingência de um espaço partilhado e, contudo, aberto à constante mutação que a polissemia lhe confere.