# Nil-City ## Sem espaço para o idiota ### Flávio Rodrigues #danca #danca-contemporanea #guidance Imagine um lugar em branco , em suspenso, sem referências temporais, inócuo. Este é o lugar proposto por *Nil-City*. Uma reflexão provocada pela crescente saturação dos dias que correm, metáfora de fluxos constantes e interações de um sistema capitalista, moldado por estratégias políticas, de intertextualidades e de redundâncias. Este "fim" preconizado não é uma explosão. É antes o seu contrário. Uma inversão de eixos que implode. ¶ ![[nil-city.png]] Em *Nil-City* o corpo é a matéria-prima de um bailado infinitamente “moderno”, em busca da utopia, aparentemente possível apenas num vazio feito a partir do zero, num *topos* onde a neutralidade é total e absoluta. _Nil-City_ propõe-nos um Big Bang ao contrário, i-materializado por um coletivo de intérpretes “manipulados” por um observador externo, o coreógrafo. Uma “escultura multi-referencial” que habitamos e onde tudo não passa de um milagre ou onde tudo é tudo menos milagre. Um nulo que não é espiritual, mas material-não-referencial. ¶ _Nil-City_ é uma _performance_ que reflete sobre o “fim” e o que ele representa na mitigação das nossas fraquezas, fricções. Na destruição do mundo estruturado e do seu demolidor sistema de equivalências, pesos, medidas. Uma criação que pretende falar de valores, “(…) de escapes, de zonas paradisíacas, de favelas camufladas, de turismo, mas acima de tudo de amor”. Amor por um Deus. Um Deus natural. Um Deus perfeito. Um Deus valioso e anárquico. Que mundo é este criado por _Nil-City_? Um mundo alternativo do paraíso? Uma prisão de tempo onde corpos se movimentam sem espaço. Sem espaço para o idiota. Não o mundo originário, mas a sua completa, inequívoca e material (re)conversão. ¶