# Proximity ## Do Plural Nasce o Singular. Do Infindável o Infinitesimal. #danca #danca-contemporanea #guidance A inspiração de Garry Stewart - responsável pela conceção de _Proximity_ - é sustentada por aturadas leituras e reflexões. Há sempre um suporte concetual que está na base das suas criações artísticas. Quando não encontra as respostas que pretende, recorre a especialistas que o auxiliam na compreensão do que se propõe trabalhar. O coreógrafo(-investigador) australiano, que há 15 anos ocupa o cargo de diretor artístico da Australian Dance Leatre (ADT), tem mostrado apetência pelas criações que fundem tecnologia e dança - de que _Held_, de 2004, é exemplo -, mas não deixa de refletir sobre questões mais basilares e filosóficas como a identidade e o movimento do corpo - como atesta _Be Your Self_, peça apresentada na edição de 2011 (e primeira) deste festival. ¶ ![[proximity001.png]] _Proximity_ é dominada visualmente por três grandes ecrãs da autoria de Lomas Pachoud. Captada por câmaras que lançam um “olhar” por todo o palco, a ação ganha uma nova e poderosa dimensão, vendo-se amplificada por uma componente tecnológica que lhe confere multidimensionalidade e que acrescenta uma camada de perceção mais próxima e intimista. A performance em palco e a manipulação de vídeo em tempo real disputam a atenção do espetador. O vídeo opera a dois níveis. Um primeiro constituído pela captura do movimento dos bailarinos (câmaras fixas e câmaras transportadas por cada um dos nove bailarinos filmam os movimentos em palco) e um segundo que se alimenta de um _set_ de imagens, desenhado pelo engenheiro de vídeo francês, em tempo real. Lomas Pachoud cria caleidoscópios, teias e fantasmas a partir da matéria cénica, e tudo num novo e imaginado universo. ¶ _Proximity_ coloca-nos perante a evidência do movimento (físico) teatralizado, estruturado com base numa semântica de natureza mais orgânica - e sincronizada - do que coreográfica; coloca-nos face a questões de natureza filosófica: a natureza da perceção, o _self_ e a identidade; coloca-nos em confronto com a pluralidade e as implicações neurológicas que uma interação entre o _eu_ e o _outro_ espoletam. ¶ Com um score musical dominado pela música eletrónica, criado por Huey Benjamin - e que se afasta do estilo de forte batida característico das criações da ADT -, _Proximity_ é o ponto de convergência entre as preocupações concetuais que emergem de _Held_ e _Be Your Self_. Sendo a sua natureza estética radicalmente diferente, o que resulta de _Proximity_ só pode ser um nexo entre as questões de fundo que Stewart pretende ver respondidas e, seguramente, um novo território criativo no trabalho do coreógrafo australiano. ¶ ![[proximity002.png]] Se, no palco, a nossa visão inicial incide sobre o quadro geral e completo que nos é oferecido - tudo está presente em simultâneo e é a partir desse quadro geral que decidimos a que, ou a quem, prestar atenção -, é no ecrã que tomamos consciência de um processo de interpretação em curso. É lá o local onde, a partir de uma determinada realidade cénica, a história se multiplica e a experiência é (re)criada. É lá onde o pormenor perdido na distância se revela ao espectador: do plural nasce o singular, do infindável o infinitesimal. ¶