# A Arte como Silêncio e Solidão #fotografia #Fukase #ravens >A doçura de nada ter a dizer, o direito a não ter nada a dizer, tal é a condição de que se forme qualquer coisa de raro ou de rarefeito que mereça um pouco ser dito.                                                                                   Byung-Chul Han In *Psicopolítica* A minha fotografia não se ocupa do exterior. Prescinde da verdade, da coisa real, e recorre ao sensível apenas para, grosseiramente, iludir a memória. Incapaz de traduzir o invisível, só na forma velada é que disfarça a imperfeição. A minha fotografia trata, assim, do interior. E sendo incapaz de se tornar linguagem, é apenas especulação. Uma especulação que se pode tornar obsessiva, por incapaz. Em 1975, numa viagem de Tóquio para Hokkaido, a sua terra natal, Masahisa Fukase começou a fotografar os corvos que conseguia ver da janela do comboio. Corvos em movimento, ou em cima de postes, fios telefónicos ou chaminés. Foi o início de uma jornada obsessiva que duraria mais de 10 anos. Em 1986, esta obsessão daria lugar a _Ravens_ (Corvos), talvez o mais aclamado _photobook_ de sempre. Falo de Fukase por dois motivos. Porque é um dos meus fotógrafos favoritos (para além de Daidō Moriyama, Takuma Nakahira, Shōmei Tōmatsu, entre outros) e por ter evitado as noções tradicionais de retrato e documentário, criando uma narrativa impressionista que funde o profundamente pessoal (o seu interior desesperado) e o alegórico (o trauma coletivo do Japão do pós-guerra). Em 1982, no seu diário, Fukase disse ter-se, ele próprio, tornado um corvo (recorde-se que Fukase sofreu um grande desgosto amoroso, após a sua mulher Yoko o ter deixado). O que eu procuro na fotografia não são as bonitas flores nem as paisagens idílicas. Não são os retratos perfeitos nem a focagem irrepreensível. Não é o nascer ou o pôr do Sol. São as sombras e as outras luzes. São os corvos. Fotografo através da lente distorcida da vida, pois para mim a arte arrebata, perturba, inquieta, transforma, faz sofrer. Talvez por isso, me sirva do título original da obra de Fukase, _The Solitude of Ravens_ (A Solidão dos Corvos). A minha arte precisa de silêncio e de solidão.